Bebel Gilberto: de volta à boa forma

Alô Galera!

Acho que poucos brasileiros sabem, mas um dos discos mais importantes da música brasileira na última década, no que diz respeito ao reconhecimento no exterior, é Tanto Tempo de Bebel Gilberto. Eu lembro como se fosse hoje de uma ensolarada e sonolenta manhã em São Francisco, no já distante ano de 2000 quando escutei pela primeira vez a perfeição do "blend" de eletrônica com bossa. Fiquei chocado. Essa mesma colheita californiana ainda rendeu Play do Moby, outro disco essencial, sem falar nos vinhos do Napa Valley, que ninguém é de ferro, rsrsrs.

O tempo passou e já são quase dez anos desde aquele dia na Virgin Megastore da Union Square. As gravadoras agonizam, as lojas de cd quase todas já fecharam, mas a música vai muito bem obrigado. A bossa, o samba e o tango argentino, em suas vertentes eletrônicas, prosperam pelo mundo todo. Bebel tem "culpa" nesse cartório, muita culpa. De Bill Clinton ao diretor espanhol Pedro Almodovar (acabei de ler no domingo na revista Serafina, da Folha de SP), todos se renderam à arte da filha de João Giberto. Quem duvida, basta ler o livro "1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer" de Robert Dimery, um dos fundadores da revista americana Rolling Stone. Deixando as eventuais polêmicas de lado, Bebel está lá, ao lado da realeza musical brasileira.

Em seu quarto disco, gravado entre o Brasil e a Jamaica e depois fechado em Nova York, Bebel volta à boa forma. Não que "Bebel Gilberto" (2004) ou "Momento" (2007), não tenham tido seus pontos positivos. Tiveram. Em especial os álbuns de Remixes foram muito bons nesse período que se passou desde o lançamento de "Tanto Tempo". Mas me parece que "All In One", o novo cd, recupera a consistência do primeiro, e mais celebrado, disco. Trabalhar com os melhores produtores do business não é nenhuma novidade para Bebel, portanto chamar gente como Mark Ronson (Amy Winehouse e Lily Allen), Didi Gutman (acabei de falar nele no post sobre Baaba Maal!), Mario Caldato Jr. e Carlinhos Brown, seria esperado. A escolha do repertório, por outro lado, é particularmente forte e, em nossa modesta opinião, superior aos dois discos anteriores.

"All in One", lançado esta semana pela tradicionalíssima gravadora Verve, traz 12 músicas sendo seis composições de Bebel sozinha ou em parceria. Mas, como o nome bem diz ("All in One" quer dizer "Tudo Junto" ou "Tudo em um só"), ela também homenageia vários outros artistas. Covers dos deuses negros da música, Bob Marley, "Sun Is Shining", e Stevie Wonder, "The Real Thing", caem como uma luva na voz suave e nos arranjos modernos. Além disso, Bebel também corre um grande risco ao abrir o álbum de familia e revisitar "Bim Bom", um clássico de seu pai e, de quebra, um dos primeiros sucessos da Bossa Nova. Mas, quem corre riscos pode ter grandes ganhos e é exatamente o que ocorre neste caso. A versão em dueto com Daniel Jobim, neto de Tom Jobim, ficou ótima: um golaço!

Mas, melhor ainda, e um dos grandes momentos do disco, é a versão "século XXI" de "Chica Chica Boom Chic", composição de Mack Gordon e Harry Warren, famosa na voz de Carmen Miranda. Com produção brasileiro-argentina via Nova York, onde Bebel nasceu e mora até hoje, Brown, Caldato e Gutman criam um veículo perfeito para a cantora relaxar e deixar sua voz doce fluir. Mas o link com Carmem Miranda não é novo. Eu tive o privilégio de assistir Bebel, Emilio Santiago, Elba Ramalho e Maria Alcina, entre outros, homenagearem a "Pequena Notável" em show nos jardins do Lincoln Center em setembro de 1996. Um final de tarde/início de noite glorioso, comemorando nossa independência e o encerramento da temporada de shows de verão do centro cultural nova-iorquino. Já não lembro o que fiz depois, mas certamente deveria ter ido tomar uma caipirinha ou comer uma feijoada, rsrsrs.

E é isso. O recado está dado: confiram o disco da sobrinha do Chico Buarque. Bebel Gilberto vem forte, cantando lindamente em português e inglês, músicas daqui e de fora, composições próprias e homenagens escolhidas a dedo e com produção top. "All in one" é o bicho!

Um abraço musical,

Sérgio